Cinema Negro

na Cidade Negra

Cinema Negro

na Cidade Negra

Uma viagem nos sons e imagens em movimento em um território da diáspora africana.

Uma viagem na história dos sons e imagens em movimento em um território da diáspora africana.

1897-1930
Presença silenciosa

No pós abolição as ruas estão permeadas por sons e imagens africanizadas.

Até que, no palco de um massacre o eugenismo republicano encontra em 1897 uma diversão capaz de reproduzir o dia a dia de Paris, Londres ou Nova York.

As plateias são influenciadas nos seus modos de vestir e amar por vedetes brancas, inspiradas em mulheres negras dos EUA, como as melindrosas.

Não há registros ainda que os músicos nas sessões usem o tambor,  proibido nas ruas e terreiros em 1905.

Mas, os ritmos adentram em um parque exibidor que tem o Teatro São João o centro das atenções.

 

No Largo deste Teatro se instala Díomedes Gramacho, um pioneiro na produção de fitas que destacavam as manifestações populares, como a Lavagem do Bonfim.

Tais registros se perderam, só que nesse canto da diáspora costuma ser um negócio a presença negra nas imagens e nas salas.

Gente que faz do secular centro um território repleto de Yalorixás, que enfrentam o racismo dissimulado no dia a dia.

Ainda mais quando se encontravam com o primeiro roteirista do Brasil, o filho do Tigre da Abolição

Referências

1930-1949
Ruídos no paraíso

A luta por liberdade dos terreiros e capoeiras encontra guarita entre os ilustrados.

Todavia, é acompanhada por uma ideia de um paraíso racial.

Os filmes “falados” que chegam dos EUA deixam ruídos sobre a questão em uma cidade que salta de 290 mil habitantes em 1930 para 470 mil em 1940.

Nesse ritmo o hábito de ver sons e imagens em movimento persiste e aumenta..

Palácios e cine teatros concentram-se entre a Praça Castro Alves e a Baixa dos Sapateiros.

Enquanto nos arredores há salas na Liberdade, São Joaquim, Calçada e na Península de Itapagipe.

O principal grupo exibidor é a Igreja Católica em busca de dinheiro, almas, corações e mentes.

Tem a anuência de um estado ditatorial que suprime sindicatos e o ímpeto da Frente Negra.

Há registros da Frente ter exibição própria, e fazer filmes não era coisa de outro mundo.

Mas o que prevalece é a cultura negra expropriada nas "baianas", seja nas películas de Hollywood ou nas chanchadas.

Enquanto a insubmissão se encontra nos gestos cômicos de Grande Otelo.

Ou na ressignificação das narrativas na criação do afoxé Filhos de Gandhy.

Referências

1950 – 1967
O ator, autor, irrompe a tela
As hierarquias raciais se cruzam com o incremento da indústria petrolífera.
 
O centro secular se dinamiza e retroalimenta o lucro nas mãos de velhas elites, haja vista o parque exibidor.
 
Controlar as sessões era tarefa para poucos, como os membros do Clube de Cinema da Bahia, no espírito modernizador das reformas na universidade.
 
Já os filmes realizados sinalizam que o falar de si para o mundo passa pela força imagética das paisagens com corpos e sons repletos de África.
 
Nesse caminho o Ciclo Baiano tem entre os seus abre alas Um dia na rampa (1960), de Luiz Paulino dos Santos.
 
Já o O Pagador de Promessas (1962) e Barravento (1962) rodam o mundo, dessa vez, permeados por gente que irrompe a tela como atores e atrizes.
 
É assim que Antônio Sampaio vira Antônio Pitanga após encenar o critico Bahia de Todos os Santos (1960).
 
E a gaúcha Luiza Maranhão é a estrela do sucesso de bilheterias em Salvador até então: A Grande Feira (1961).
 
Nesse bojo, outros profissionais técnicos e artísticos também surgem, como Agnaldo Siri e Roque Araújo.
 
Também surge a vontade de contar outras versões da história, como Sol sobre a lama (1964), financiado por aqueles que viviam na pele uma tragédia eminente.
Referências
1968-1979
O Desnudar do Mito

Um boom populacional segue o curso de uma reforma urbana que remodela e segrega a cidade na ditadura militar.

Assim, as salas em shoppings nascem, enquanto os cinemas de ruas retraem, degradam e decaem. 

Novos e velhos territórios negros respondem com invasões enquanto os blocos de índio no carnaval ressignificam as narrativas.

Uma tríade tem as Jornadas de Cinema como o clímax dos filmes com imagens da África e denúncias ao racismo.

É por onde Linda Rubim exibe o curta Um Jegue na Paisagem Nordestina (1974); e Agnaldo Siri coloca para fora suas visões.

A voz de um cinema negro na direção aparece com Zózimo Bulbul no premiado Alma no Olho (1977), e Pitanga em Na Boca do Mundo (1978).

 
Mas o que prevalece é um cinema do qual o negro é assunto na voz de terceiros, a que se destaca na época O Anjo Negro (1972), perenizado na atuação Mario Gusmão.
 
Enquanto isso, sucessos comerciais neste território os atores e atrizes enfrentam o embranquecimento
1980-1989
Lençol branco e projetor

Na reabertura política os movimentos negros vãos às ruas no carnaval e no dia a dia insuflando as tensões na cidade mais dividida e desigual.

No desde dentro do Mestre Didi o SECNEB pauta, formula e produz documentários como Egungun (1983).

Já Luiz Orlando compartilha a arte de projetar e mobilizar sessões , bem como o acesso à uma distribuição diversificada.

Forma-se assim uma rede representada pela Federação Baiana de Cineclubes (FBC) e sob peso nacional.

na massificação da TV as minisséries fazem Chica Xavier se reencontrar com sua terra e os capoeira de Angola entrarem na cena.

Também é tempo dos sons navegarem nas trilhas sonoras do (quase) prefeito Gilberto Gil.

Uma cidade em caldo político e cinematográfico que acolhe a estreia nacional de Óri (1989), de Beatriz Nascimento.

1990-1999
O vídeo nas ruas e escolas

Uma nova geografia urbana se consolida e retroalimenta velhas hierarquias.

Nas imagens o [popup_trigger id="16919"]monopólio da fala é da TV[/popup_trigger],  assentada no coronelismo midiático.

Um espectro o qual a publicidade dá o tom de uma baianidade sincrética e mestiçaarticulada à indústria do Axé Music.

Já o cinema nacional e baiano vai ao fundo do poço com o fim da Embrafilme.

E de lá resiste com o vídeo independente em Paixão e Guerra no Sertão de Canudos (1994) de Antônio Olavo.

 
Uma distribuição por redes comuns à representação de Luiz Orlando na Associação Brasileira de Vídeo Popular (ABVP).
 
Nos tempos de sonhos abortados como a carreira de Rogério Santos e o longa sobre Bob Marley na Bahia.
 

Renascidos em ONG´s como o Liceu e a Cipó, de onde saem nomes como Lindiwie Aguiar e Iris de Oliveira.

 
Outra frente reativa a Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) e de lá mistura velhas e novas gerações como Adler Paz e Ceci Alves.
2000
A Afirmação Digital
2010
O Futuro do Presente