O “Ciclo Baiano de Cinema” é o curto e intenso período entre 1959 e 1965, quando a fixação por filmar na Bahia se soma a um conjunto de críticos e realizadores locais, que viria a confluir com o Cinema Novo.
Essa metodologia considera cinco filmes encenados por Pitanga: Bahia de Todos os Santos (TIGUEIRINHO NETO, 1960), Barravento (ROCHA, 1959), A Grande Feira (PIRES, 1961), O Pagador de Promessas (DUARTE, 1962) e Sol Sobre a Lama (1963), além de outros, como Redenção (SANTOS, 1959), Tocaia no Asfalto (SANTOS, 1962), e Deus e o Diabo na Terra do Sol (ROCHA, 1963).
Sem o apoio que desejava, ele deu prosseguimento ao sonho, tornando o Clube de Cinema um espaço que ampliou o acesso e a interpretação em relação às obras originárias de países como Rússia, Itália, França e Japão, formando sua própria escola, a Escola Baiana de Cinema, termo definido por Setaro (2010) para identificar um grupo de cineastas locais influenciados por Walter e liderados na produção por Glauber Rocha, Rex Schindler e Roberto Pires em três longas articulados: Barravento, A Grande Feira e Tocaia do Asfalto.
Estas também são obras que costumam ser legitimadas ao empregarem profissionais locais em funções artísticas como elenco e roteiro e ao terem um compromisso identitário que, no caso da Escola, há em “função da cultura local, o registro da baianidade numa perspectiva de imprimir no celuloide o “espírito de brasilidade”, via Bahia, sua terra e seu povo” (SETARO, 2010, p. 47). Porém, nem sempre narrativas feitas em um local trazem essa perspectiva de construção de identidade local, como foram Redenção (1959) e Tocaia no Asfalto (1962). Ambos são thrillers policiais, sendo o Redenção o primeiro longa-metragem de ficção dirigido e produzido por baianos88, critérios adotados das políticas do audiovisual, justificadas juridicamente no domicílio das pessoas ou empresas que controlam os direitos autorais, na direção e/ou na produção para destinar recursos de caráter estadual ou regional. Nessa época, os órgãos públicos cederam estrutura para locações em quase três anos de filmagem, sob a liderança do diretor Roberto Pires89, que obteve o grosso dos recursos da produção via financiamento de familiares.
Redenção também é precursor de uma noção de regional indiferente a um projeto identitário de baianidade, às pessoas negras e às culturas negras, o que, se por um lado, evita a expropriação, por outro, flerta com a negação visual e autoral corriqueira no cinema e na televisão nacional, uma indiferença pontuada por Walter Silveira como uma fraqueza narrativa:
Até porque, afora o fato de ser Redenção um filme com capitais baianos, escrito e dirigido por um baiano, interpretado por baianos, a presença da Bahia é uma simples presença de paisagem. E, num certo momento, desfigurada geograficamente… (SILVEIRA, 1959)
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